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Género e Planeamento Familiar: Lições do MCSP Moçambique


Este artigo resume as lições de gênero e planejamento familiar aprendidas com um estudo recente do Programa de Sobrevivência Materno-Infantil (MCSP) financiado pela USAID, realizado em duas províncias de Moçambique. Ce explore como os resultados da pesquisa do MCSP são relevantes para nossa compreensão do viés de gênero e como isso pode ser abordado na elaboração de programas de planejamento familiar.

O Programa de Sobrevivência Materno-Infantil (MCSP) financiado pela USAID publicou recentemente descobertas de um estudo em duas províncias de Moçambique.

O estudo de dois anos incentivou a comunicação do casal por meio de diálogos em grupo (palestras), aconselhamento de casais e treinamento para profissionais de saúde. O estudo mediu o quão bem o projeto envolveu os homens em cuidados pré-natais, uso de planejamento familiar moderno e preparação para o parto. Também analisou como os casais tomam decisões sobre o planejamento familiar. O estudo do MCSP Moçambique foi qualitativo, o que significa que recolheu dados não numéricos (sem números).

Ligando o planejamento familiar e a saúde reprodutiva

Os programas de planejamento familiar beneficiam a todos, inclusive os homens. É por isso que muitos programas não apenas incluem homens, mas também visam desafiar as normas de gênero nocivas. Algumas normas de gênero podem impedir que homens e mulheres usem métodos contraceptivos modernos.

Exploramos como os resultados da pesquisa do MCSP são relevantes para nossa compreensão do viés de gênero e como isso pode ser abordado na elaboração de programas de planejamento familiar.

As “normas de gênero” descrevem como se espera que as pessoas de um determinado gênero (e muitas vezes da idade) se comportem, em um determinado contexto social.

Os programas “transformadores de gênero” visam examinar, questionar e mudar as normas e o comportamento de gênero de uma forma que apoie a equidade e a igualdade de gênero.

As principais lições de planeamento familiar do estudo do MCSP Moçambique

  • Os homens ainda tomam a maioria das decisões sobre planejamento familiar. Isso inclui quantos filhos ter, quando tê-los e se deve usar contracepção. As normas de gênero limitam a capacidade das mulheres de tomar decisões sobre planejamento familiar.
  • O aconselhamento de casais sobre planejamento familiar pode reduzir a violência entre parceiros íntimos relacionada ao uso de anticoncepcionais. As mulheres disseram que gostariam que seus parceiros masculinos participassem do aconselhamento. Eles sentiram que isso reduziria a chance de enfrentarem violência por quererem limitar os nascimentos. O estudo recomendou que os provedores usem o aconselhamento para abordar as atitudes dos parceiros masculinos sobre o planejamento familiar e reduzir a violência.
  • As reuniões de diálogo comunitário foram bem-sucedidas em aumentar o apoio aos cuidados reprodutivos e maternos. Mas eles não são suficientes. O estudo sugere a necessidade de educação em grupo de longo prazo para desafiar as normas de gênero. Esta educação deve atingir os membros da comunidade de forma contínua. Isso ajudaria a garantir que a mudança continue.
Após o primeiro parto institucional da mulher, um casal deixa o centro de saúde com o recém-nascido – o décimo segundo filho do casal. Crédito: Fastel Ramos/MCSP

Olhando mais fundo

Como o estudo do MCSP se compara com o que já sabemos? Os dados do Planejamento Familiar 2020 (FP2020) nos dizem que a maioria das mulheres tem poder de decisão individual ou conjunta quando se trata de contracepção.

  • De acordo com dados de 41 países, 91% por cento das mulheres casadas que usam contracepção relatam que tomaram a decisão de usar um método moderno sozinhas ou com o marido ou parceiro (Fonte: Relatório de Progresso FP2020).
  • De acordo com dados de 14 países, 86%% das mulheres casadas que não usam métodos contraceptivos relatam que tomaram essa decisão sozinhas ou com seus maridos ou parceiros (Fonte: Relatório de Progresso FP2020).

Comparado a esses grandes conjuntos de dados, o estudo do MCSP falou com um pequeno número de pessoas e apenas em duas províncias. Mas uma descoberta particular reforça a ideia de que, ao projetar um programa com consciência de gênero, o contexto é importante. No estudo do MCSP Moçambique, os membros da comunidade e os provedores de saúde tinham opiniões diferentes sobre como as decisões de planejamento familiar eram tomadas. Mais da metade dos homens e mulheres no estudo relataram tomar decisões juntos. Mas os provedores relataram algo diferente: que apenas os homens tomam decisões sobre planejamento familiar.

Pensamentos finais

Os programas de planejamento familiar precisam ter várias estratégias para lidar com o preconceito de gênero para serem eficazes. Grandes conjuntos de dados podem mostrar tendências globais ou nacionais. Estudos menores, como este, podem mostrar a história por trás dos números – e destacar diferenças localizadas.

Podemos aprender muito com este estudo do MCSP em Moçambique. Uma lição importante é que as percepções da tomada de decisão podem variar. A pesquisa precisa examinar e explicar essas diferenças. Perguntar a uma ampla gama de participantes de diversas origens deve ser o padrão na pesquisa baseada na comunidade sobre a tomada de decisões de planejamento familiar. Isso tem implicações de tempo e financiamento para a pesquisa. Mas o valor dos dados obtidos vale a pena, pois pode nos ajudar a ser mais responsivos na concepção e implementação do programa.

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Bretanha Goetsch

Diretor de Programas, Johns Hopkins Center for Communication Programs

Brittany Goetsch é Diretora de Programas no Johns Hopkins Center for Communication Programs. Ela apóia programas de campo, criação de conteúdo e atividades de parceria de gerenciamento de conhecimento. Sua experiência inclui o desenvolvimento de currículo educacional, treinamento de profissionais de saúde e educação, elaboração de planos estratégicos de saúde e gerenciamento de eventos comunitários de grande escala. Ela recebeu seu Bacharelado em Ciências Políticas pela American University. Ela também possui mestrado em saúde pública em saúde global e mestrado em estudos latino-americanos e hemisféricos pela Universidade George Washington.